Entrevistas

O Circo Místico de Cacá Diegues

Neste 2009 em que "Bye bye Brasil" (1979) comemora trinta aninhos, Cacá Diegues está com a agenda concorrida, com projetos como produtor e diretor. Anote aí:

- Vamos começar a pre-produção do filme "Cinco vezes Favela 2 - Agora por eles mesmos" depois do carnaval, para filmar em maio. Terminei o roteiro de "O grande circo mistico", com George Moura (roteirista de "Linha de passe"). Quero ver se conseguimos começar sua produção depois do "Cinco Vezes...". E estamos ainda ajudando José Wilker a fazer seu primeiro filme como diretor, "Giovanni Improtta". Renata Magalhães (mulher do cineasta) é a produtora e eu estou colaborando - diz Diegues.

Na entrevista a seguir, o cineasta, nascido em Maceió, Alagoas, em 19 de maio de 1940, explica seu projeto de adaptação para o espetáculo musical baseado em um poema de Jorge Mateus de Lima (1893-1953). Em 1983, "O grande circo místico" chegou aos palcos musicado por Chico Buarque e Edu Lobo. Agora, Diegues está disposto a conferir como texto de Lima se comporta nas telas. Confira suas reflexões:

De que maneira o projeto de "O grande circo místico" te possibilita dialogar com a obra de Jorge de Lima, de quem você é um entusiasta? De que forma as músicas de Chico e Edu Lobo filtram a estética do autor de "Calunga"?

CACÁ DIEGUES: Jorge de Lima é uma velha paixão, adquirida sob a influência do poeta, crítico e jornalista Mario Faustino, quando eu ainda era adolescente. Hoje tenho a sensação de que me preparo para fazer esse filme desde aquela época. O filme será uma leitura pessoal do poema e do poeta, as músicas de Chico e Edu são uma referência que não tem nada a ver com o balé para o qual elas foram criadas.

A história de amor entre um aristocrata e uma acrobata do Grande Circo Knieps será contada sob uma perspectiva realista? A idéia é fazer um musical na linha de filmes como "A ópera do malandro", de Ruy Guerra? Já há um elenco em vista? O time de profissionais egressos de grupos como a Cufa e o Nós do Morro estarão contigo?

CACÁ DIEGUES: Não, não se trata de um musical de jeito nenhum. Claro que pretendo usar pelo menos algumas das lindas canções de Chico e Edu para o balé, mas não se trata de um filme dançado e/ou cantado. Na verdade, acabei de escrever o roteiro com George Moura, não tenho ainda um elenco e uma equipe formados.

"Bye bye, Brasil", que para muitos críticos é a tua obra-prima como realizador, completa 30 anos em 2009. De que maneira aquele filme modificou as trilhas da tua carreira? Você ainda revê as peripécias de Lorde Cigano, o personagem de José Wilker?

CACÁ DIEGUES: Já lhe disse antes e repito agora: procuro não pensar muito no que fiz antes. Quero fazer todos os meus filmes com a mesma euforia de um primeiro e a mesma urgência de um último. Portanto, cada filme deve ser único e corresponder ao que penso e sinto naquele momento presente, sobre o cinema e a vida. Mas é claro que me orgulho muito de tudo que já fiz antes e fico muito feliz quando esses filmes têm uma vida longa, como "Bye Bye Brasil".

Sua produtora, chamada Luz Mágica, está ligada ao novo filme do cineasta Jorge Durán: "Não se pode viver sem amor". Como é a sua participação no projeto? Ao mesmo tempo em que você aporta na estreia dos meninos de "Cinco vezes favela 2", você auxilia um veterano cheio de gás como Durán. Como você vê essa efervescente volta dele à direção após "Proibido proibir", de 2006?

CACÁ DIEGUES:A produção na Luz Mágica está muito mais sob a responsabilidade de Renata Magalhães, minha mulher e parceira, do que minha, que sou um colaborador dela e de Tereza Gonzalez, nossa produtora executiva. Estamos muito felizes de participar como co-produtores do novo filme de Durán, um velho amigo e companheiro. Ele foi diretor-assistente de "Quilombo", em 1983. É um cineasta que admiro muito. Entramos também em co-produção com o Peru para realizar ""El prémio", dirigido pelo mais importante cineasta peruano de hoje, Chicho Durant. Somos também produtores associados no longa de estréia de Jeferson De, "Bróder". De é realizador de vários curtas excelentes e criador do movimento "dogma feijoada" paulista. Vamos também produzir, no segundo semestre, o filme de estréia de José Wilker como diretor, "Giovanni Improtta", baseado no personagem da novela "Senhora do destino", criado por Aguinaldo Silva e pelo próprio Wilker. Estamos ainda ajudando a desenvolver "Drible", projeto de Vitor Lopes, o realizador do longa documental "Língua" e de premiadíssimos curtas. E temos em processo de produção nosso velho projeto do "Cinco Vezes Favela 2, agora por eles mesmos", do qual tenho cuidado pessoalmente.

Como está o cronograma de Cinco Vezes Favela 2, agora por eles mesmos"?

CACÁ DIEGUES: Depois do Carnaval começaremos as oficinas técnicas de preparação e vamos filmar a partir de maio, para que o filme fique pronto em setembro ou outubro. Como você sabe, os roteiros estão prontos, os diretores já foram escolhidos e, a partir de fevereiro, eles começam a escolher suas equipes. Cada um desses projetos tem um tamanho e um comprometimento diferente de nossa parte, dependendo do interesse de seus próprios criadores.