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Biden faz pronunciamento na Sala Oval da Casa Branca, o primeiro após desistir da candidatura à reeleição — Foto: Evan Vucci / POOL / AFP

A desistência de Biden transformou em passado o que estava acontecendo na eleição americana

Kamala Harris deve entrar no páreo com uma promessa de muitos milhões de dólares em doações. O que, mesmo numa eleição americana, não é pouco

Quando o então presidente Lyndon Johnson, em 1968, desistiu de sua reeleição, não se justificou com complicações em seu comportamento público, nem com o surgimento de outra candidatura mais poderosa que a sua. Foi simplesmente para casa e desistiu de sua reeleição à presidência americana. Não teve que provar nada, foi simples assim.

Agora, quando chega a vez de Joe Biden ter que praticar o mesmo gesto político, as justificativas que ele nos dá são muito mais cheias de grandeza e razão, sobretudo se lembrarmos que, diferentemente do que acontecera em 1968, que ainda nos fez testemunhar o brutal assassinato de Bob Kennedy (cujo filho declarou apoio a Trump um pouco antes da desistência de Biden, o que, particularmente, me chocou profundamente), Kamala Harris deve entrar no páreo com uma promessa de muitos milhões de dólares em doações. O que, mesmo numa eleição americana, não é pouco. Basta que a atual vice-presidente consiga referendar seu nome na próxima convenção democrata, o que não parece correr nenhum risco.

Kamala fora escolhida parceira na chapa democrata devido a seu comportamento corajoso em casos recentes de discriminação racial e defesa das mulheres. Sobretudo o pânico americano diante do assassinato de George Floyd no meio da rua, um homem negro e pobre morto por um policial branco e muito bem armado.

Por motivos como esse o anúncio da candidatura de Kamala Harris como substituta de Joe Biden acabou repercutindo muito bem junto aos negros brasileiros, eles também vítimas de tanta discriminação, além dos jovens eleitores e dos liberais de um modo geral.

Se formos em frente nesse tom piedoso, estaremos esquecendo outros valores que tornam essa mulher admirável, uma pessoa política que merece nosso maior respeito e admiração.

Como disse Biden na televisão, “a democracia americana está em risco e é preciso preservá-la mesmo que isso signifique abrir mão de ambições e projetos pessoais. Reverencio esse cargo que ocupo, mas amo mais o meu país”.

A desistência de Joe Biden transformou em passado o que estava acontecendo até aqui na eleição americana. O que se referia a Trump e aos republicanos não tem mais nenhuma importância. Só importa agora o que representa Kamala Harris para o futuro dos Estados Unidos da América.

E esse país ainda tem para nós e para o restante do mundo um papel fundamental a desempenhar. E o gesto de Biden faz com que possamos renovar nossa confiança na Humanidade.