Depoimentos

O O Cinema e o Tempo

O cinema é a mais bela invenção do imaginário humano, disse um dia Sergei Eisenstein. E don Luis Bunuel acrescentou que ele é como o sonho – imaterial, inventor de seu próprio espaço, livre do tempo.
Um filme é sempre visto numa sala escura, num estado intermediário entre o sono e a vigília, um estado único em que outra realidade se constrói em nossas mentes. Como resultado disso, um bom filme é um encantamento que nos persegue pelo resto da vida, nos embevedece, nos inquieta e nos exaure.
A tela iluminada lança uma nova luz sobre o mundo que nos cerca, um novo mundo.
De tal modo, que a vida não teria mais sentido para nós, se não existisse o cinema e seu poder sobre o espaço e o tempo.

O cinema altera a fluência do tempo, aproxima momentos distantes um do outro, reorganiza a ordem das coisas para que possamos melhor compreendê-las.
Um outro universo se expande diante de nossos olhos, uma outra lógica que salta sobre os dias.
E de repente estamos revendo nossa infância, reconstruindo nosso entendimento dela. O flashback é uma lembrança do passado, mas também um remendo do presente. É a vida, mas só as partes que preferimos dela. Um filme também pode alterar a velocidade das coisas, para que possamos ver melhor a beleza de cada movimento. O quadro congelado é a celebração do instante sem tempo.

A fusão, uma bruxaria dialética de idéias superpostas.
E o fade in narra o acordar, assim como o fade out nos leva ao enigma e ao repouso.
O cinema nos põe diante de nós mesmos e do mundo, com poderes e saberes que nunca imaginamos possuir, ele nos torna sábios e heróis.
E jovens, eternamente jovens, como as divindades que beberam de sua fonte de beleza.
Porque o cinema é o lugar da eternidade.

Por Carlos Diegues