Artigo
Cacá Diegues: Quando Washington Olivetto me chamou para trabalhar para ele
Acho que não tinha as mais puras intenções do mundo. Mas eu estava precisando e fui
Eu já estava juntando meus trapinhos com os de Renata. Depois de mais do que sério e não sei quantos anos de casamento sufocante e um casal arretado e lindo de filhos, eu estava precisando mesmo era de uma espécie de férias do amor e dos cuidados que ele provoca na gente.
Aquele era um apartamento que eu havia pensado em comprar, para ali me instalar com Nara e os meninos. Das vantagens originais, me ficaram a Gávea ser longe de tudo e a ideia de que ninguém ia me fazer uma surpresinha me visitando de madrugada.
Pronto. Era tudo de que eu precisava.
Fora, é claro, meu vizinho porta com porta, meu queridíssimo Arnaldo Jabor, e a venda fácil do apartamento para o primeiro candidato que me propusesse a compra.
Essa história toda conto com detalhes no livro “Vida de cinema”, que terminei de escrever há alguns anos. Naquele texto vocês verão como meus planos continuaram os mesmos. Embora o elenco fosse outro.
Glauber foi o único amigo a quem contei a verdade sobre minha história com Renata, minha súbita paixão por ela, um desejo sincero e profundo de tê-la como minha mulher.
E ele queria saber de tudo, desde como começamos a nos entender melhor, até quando decidimos, na volta ao Brasil, estarmos com uma data certa para então nos tratarmos com mais intimidade.
Infelizmente quando voltou de vez ao Brasil, em 1981, Glauber já chegou fora de si, sem capacidade alguma de raciocinar sobre o real, em torno dele mesmo.
Assim que chegou de volta, Glauber só queria saber de como estavam os companheiros, o que havia se passado com cada um deles.
Eu e Renata não precisamos inventar nada sobre nós dois. Nossa vida era nítida, pudemos derramar algumas lágrimas sinceras por tudo o que víamos acontecer. Tínhamos razão de sobra para isso.
E aí aconteceu o que iria agravar nossas vidas, sobre a qual achamos que temos algum controle.
Ainda estávamos tentando entender o que tinha acontecido, quando uma nova desgraça se abatia sobre nós: Washington Olivetto falecia depois de longo tratamento em hospital local durante quatro meses. E ainda era cedo para ele morrer.
Estava escrito em seu obituário, no jornal que dava a notícia que ninguém queria ler: “Do primeiro sutiã às mil e uma utilidades da esponja de aço, a usina de ideias que era a cabeça de Washington Olivetto marcou não apenas a publicidade brasileira, mas também a vida de gerações no país”.
Sempre fiz parte de uma geração de cineastas que, quando não estavam trabalhando em um projeto de longa-metragem, se envolviam com publicidade. A gente participava da própria criação da peça que dava origem ao anúncio.
Quando Olivetto me chamou para trabalhar para ele, acho que não tinha as mais puras intenções do mundo. Mas eu estava precisando e fui. Quando acabou a série de pequenos filmes que devia fazer, chamei meu pessoal para vê-los e destruir sua pobreza de ideias e de execução.
Apresentei-os com um discurso de desprezo, alegando que tinha feito aquilo para não deixar ninguém morrer de fome. Mas fui refutado por meu pessoal, empolgado com os resultados diante de alguns versos de uma poesia ainda pouco conhecida!
Olivetto se tornou conhecido fazendo os comerciais para sua própria empresa, a W/Brasil, que montou em 1986. Na DPZ, onde ficou até criar a W/Brasil, teve a ideia brilhante de chamar Paulo Maluf pra ser o pé direito de uma campanha de calçados. A mesma campanha em que Leonel Brizola seria o pé esquerdo. Viva Washington!