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O que há para se fazer

A liderança e a genialidade de Glauber Rocha foram fundamentais, mas sem Nelson nada disso seria possível

Se ficarmos muito tempo sem ler os jornais, qualquer jornal, ou se nos recusarmos a ver um pouco de televisão, estaremos nos condenando à mais profunda ignorância sobre o que se passa no mundo. Esses são os olhos que temos hoje para vermos o que costumamos chamar de realidade. O que vem depois, é o cérebro que é capaz de distinguir o que vimos, com essa ou aquela tendência, formado assim ou assado.

Essa versão do cérebro é fundamental para entendermos o que está se passando. Essa semana, por exemplo, li num jornal paulista a notícia da morte do professor Newton da Costa, ele era de Curitiba e seu obituário dizia que tinha morrido com 94 anos de idade.

Nunca fui a São Paulo ou cheguei perto dos estados do Sul (Paraná e Santa Catarina) sem dar um telefonema para o professor Newton, a quem costumava chamar de “o gênio do Sul”. Nunca o encontrei em toda a minha vida, me bastava ouvi-lo e à sua genialidade pelo telefone, naquelas tardes úmidas trancado em quartos de hotéis paulistanos.

No mesmo jornal que publicara seu obituário, encontrei também notícia da morte de dois velhos amigos – o fotógrafo Carlos Leonam e o crítico e cinéfilo Ely Azeredo.

Do primeiro vou guardar minha eterna lembrança de um telefonema tão gentil que me deu para Paris, onde me encontrava exilado, fugindo da violência que se instalara no Brasil graças à “revolução militar”. Na companhia de minha mulher de então, Nara Leão, decidíramos termos nosso primeiro filho em Paris. Lembro com emoção da fotografia de Isabel recém-nascida dormindo serena nos braços encantados de Leonam a interpretar para ela uma nênia nacional.

Ely Azeredo tinha uma das maiores bibliotecas dedicada ao cinema que já vi. E foi ele quem batizou, em uma reunião na casa de Luiz Fernando Goulart, o movimento que inaugurou o cinema moderno no Brasil: o Cinema Novo.

Voltando ao professor Newton, ele era um matemático e um filósofo capaz de abraçar as complexidades e incertezas da ciência moderna. Nos anos 1960, quando tomei conhecimento de sua existência, ele lecionava na USP e em instituições nos Estados Unidos, na América Latina e na Europa. Foi quando se aposentou, para ficar mais perto de seus três filhos que viviam em Florianópolis.

Newton da Costa criou a “lógica paraconsistente” que terminou por oferecer meios de lidar com inteligência artificial ou “com decisões complexas, onde a incerteza e a ambiguidade são comuns”.

Aí, claro, me lembrei do que me disse uma vez Gilberto Gil: “Um de nossos destinos é informar o mundo sobre uma nova forma de encarar a natureza, a linguagem e o convívio”. Infelizmente Newton da Costa nos deixou com quase 100 anos de idade. Mas Gilberto Gil vai ficar conosco para sempre.